No artigo ‘QUEDA DE CABELO: Tipos de Alopecia – parte I destacamos que “alopecia” é o termo médico para “queda de cabelo”, conversamos sobre o ciclo normal do cabelo e a divisão entre alopecia cicatricial e não cicatricial.
Depois abordamos o primeiro tipo de queda de cabelo não cicatricial, a alopecia androgenética.
Neste texto, conversaremos sobre outros tipos de queda de cabelo não cicatricial: alopecia de tração, tricotilomania, alopecia areata, eflúvio telógeno e eflúvio anágeno.
Alopecia de tração
Alopecia de tração é uma queda de cabelo causada por insulto direto ao fio de cabelo, como a tração demasiada conforme a forma de pentear ou prender os cabelos e a exposição a produtos químicos (relaxamentos e escovas) e a altas temperaturas em secadores de cabelos e pranchas.
Caracteristicamente afeta as regiões temporais, mas difusamente pode-se perceber um cabelo, fino, quebradiço e com fios em diversos tamanhos.
Se a agressão continuar, pode evoluir para alopecia cicatricial que é irreversível.
Tricotilomania
Tricotilomania é uma perda de cabelo auto-induzida, ou seja: um ato de arrancar ou quebrar o cabelo devido ao hábito de manipulá-lo, isto é, de ficar mexendo, fazendo redemoinho com o dedo, por exemplo, que muitas vezes é feito inconscientemente. Ocorre mais frequentemente em crianças ou adolescentes.
A perda de cabelo é assimétrica e tem uma forma incomum, com cabelos quebrados que não são facilmente removidos.
Áreas únicas ou múltiplas podem ser afetadas, incluindo sobrancelhas e cílios.
Há pouca ou nenhuma inflamação. Fios de cabelos novos de até 1,5 centímetros podem também ser visíveis antes de serem longos o suficiente para serem puxados novamente.
Normalmente não representa qualquer problema emocional.
Em crianças pequenas muitas vezes é um hábito que acabará por resolver por conta própria, como na criança que fica fazendo redemoinho na hora de dormir ou no adolescente que envolve o cabelo em torno de um dedo e puxa-o ao concentrar-se durante o estudo, por exemplo.
Já, em adultos, pode significar algum transtorno emocional mais importante.
O tratamento, quando necessário, envolve a modificação comportamental e, em adolescentes e adultos, pode estar indicado, em alguns casos, o tratamento psiquiátrico para controle da ansiedade ou transtorno obsessivo-compulsivo.
Alopecia areata
Alopecia areata é um tipo de queda de cabelo não-cicatricial que pode afetar homens e mulheres, adultos e crianças. O padrão circular ou oval de queda de cabelo é característico.
Há geralmente uma área redonda ou oval com a pele normal e lisa (aspecto de bola de bilhar) desprovida de cabelo. Este cabelo perdido geralmente cresce novamente, sem quaisquer problemas ou qualquer outra perda de cabelo.
Não existe uma correlação entre o número de áreas e a gravidade. Alopecia areata pode afetar qualquer região, embora o couro cabeludo seja o mais comum.
A barba é afetada em cerca de um quarto dos homens e, mais raramente, as sobrancelhas ou extremidades podem estar envolvidos.
A perda de 40% do cabelo ou mais ocorre em apenas cerca de 1 em 10 das pessoas.
As formas mais extensas ocorrem em 7%. Estas são chamadas de alopecia totalis, se todos os cabelos do couro cabeludo são perdidos e alopecia universalis, se todos os pelos do corpo, incluindo sobrancelhas, são perdidos. Nas formas totalis e universalis de alopecia areata o cabelo pode não voltar a crescer.
A causa exata é desconhecida, mas existe uma predisposição genética, e há consenso a favor de uma resposta auto-imune. Cerca de 20% das pessoas com alopecia areata também têm um parente que tem ou teve alopecia areata.
Tratamentos para alopecia areata
Embora o cabelo muitas vezes possa voltar a crescer por conta própria na alopecia areata, existem tratamentos que podem ser úteis. Ainda assim, não há cura para alopecia areata, ou seja, o problema tende à recorrência.
Os esteróides tópicos, injeções de corticosteróides na pele são utilizados quando necessário.
Muitos outros tratamentos tópicos podem ser usados.
Para a doença mais extensa, por vezes, pode ser prescrito medicação por via oral. Estes atuam para suprimir o sistema imunológico, mas também não são sempre eficazes.
Eflúvio telógeno
Eflúvio telógeno é uma forma comum de queda de cabelo.
A perda de cabelo é passageira e pode ser devido à algum medicamento, gravidez e parto, hipotireoidismo e hipertireoidismo, dieta extremamente restritiva ou algum tipo de stress físico ou psicológico, tais como uma cirurgia de grande médio ou porte, hemorragias (inclusive ocasionalmente doação de sangue), trauma grave ou uma doença febril aguda.
Também pode ocorrer por deficiência nutricional, principalmente de ferro ou zinco.
No couro cabeludo normal, os cabelos estão em diferentes fases.
Quando a pessoa passa por uma das condições acima, é possível que um número significativo de fios de cabelo passe prematuramente da fase anágena para a fase catágena e, em seguida, telógena (de repouso), sendo os fios de cabelo descartados de 2 a 4 meses depois o evento. Costuma afetar menos de 50% do couro cabeludo.
Geralmente a pessoa não associa a queda e cabelo ao evento ou doença anterior devido ao tempo decorrido. A queixa comum é de que o cabelo “sai em punhados” ao pentear ou lavar.
Medicamentos como causa de eflúvio telógeno
Alguns medicamentos que comumente causam eflúvio telógeno são medicamentos anti-convulsivantes, medicamentos para hipertensão arterial como beta-bloqueadores e bloqueadores do canal de cálcio, anti-depressivos, anti-inflamatórios não-esteróides (incluindo o ibuprofeno), anticoagulantes, retinóides (incluindo excesso de vitamina A) e medicamentos para tratamento de alterações da tireóide.
Nesta situação, estes medicamentos só devem ser interrompidos pelo médico que identificará se realmente o medicamento é o causador da queda de cabelo, já que diversas outras condições podem ser a causa.
Gravidez e eflúvio telógeno: a desesperadora queda de cabelo 3 meses depois do parto…
O eflúvio telógeno após o parto tem um componente diferente, pois durante a gravidez os cabelos crescem com mais força, porque os pelos anágenos não passam para a fase catágena e continuam a crescer.
Então, após o parto, todos os pelos que deveriam ter entrado antes em fase catágena durante a gravidez entram ao mesmo tempo nesta fase e, em seguida, na fase telógena e 3 meses mais tarde são descartados abruptamente.
Não há nenhum tratamento específico para o eflúvio telógeno e o cabelo voltará a crescer espontaneamente quase sempre.
Eflúvio anágeno
Queda de cabelo difusa que ocorre como um resultado da exposição a determinadas substâncias.
A causa mais comum de queda de cabelo por eflúvio anágeno são as drogas de quimioterapia para o tratamento de câncer.
Câncer de mama (leia em CÂNCER DE MAMA: Riscos e Diagnóstico – parte I e CÂNCER DE MAMA: Riscos e Diagnóstico – parte II) e câncer de próstata (leia em CÂNCER DE PRÓSTATA: Sintomas, Diagnóstico e Tratamento) são exemplos de neoplasias tratadas com quimioterapia.
Após a exposição tóxica, o crescimento do cabelo é abruptamente interrompido e o folículo em fase anágena é descartado após 1 a 4 semanas. A queda de cabelo afeta 80% a 90% do couro cabeludo.
A recuperação completa pode ser esperada uma vez que o fator desencadeante tenha sido removido.
Outros problemas
- Dermatite seborreica: a produção de grandes quantidades de caspa frequentemente está associada com afinamento dos cabelos.
- Tinea capitis (micose no couro cabeludo): pode causar queda de cabelo local, com os típicos “pelos tonsurados”, isto é, cortados como por tesoura rente ao couro cabeludo.
- sífilis secundária: provoca um padrão típico de perda de cabelo chamado de alopecia em clareira.
- Defeitos estruturais dos pelos: anormalidades estruturais dos fios de cabelo que os deixam frágeis. Algumas têm causa genética: moniletrix, pili torti , tricotiodistrofia e doença de Menke. A tricorrhexis nodosa é causada por traumatismo excessivo como, escovar intensamente, exposição prolongada ao sol e natação.
Considerações finais
A queda de cabelo traz um dano estético que afeta a auto-estima e, em alguns caso, a causa pode ser um problema orgânico ainda mais sério. Assim, é importante que a pessoa procure um médico ao invés de seguir orientações de terceiros ou receitas milagrosas para queda de cabelo.
Somente um médico pode dar o diagnóstico e o tratamento corretos.
O tratamento irá variar conforme a causa e, em muitos casos, a melhora virá com a mudança de hábito em como a mulher manipula o seu cabelo e na melhora na qualidade da alimentação.
Este texto é continuação de QUEDA DE CABELO: Tipos de Alopecia – parte I.
Referências
- Du Vivier. Atlas de Dermatologia Clínica. 2ª ed. Ed. Manole LTDA, 1995
- American Skin Association
- Alopecia (Hair Loss, Baldness) – canada.com
- Guidelines Patient.co.uk
- Alopecia (Baldness) – The Merck Manual
CRM-PR: 20322